5.12.12

Diário de um Voluntário

9 de Janeiro de 1865, Porto Alegre, Rio Grande do Sul

    Hoje... foi um grande dia. Vi o Imperador, em carne, pele, e osso. Ele discursou da bancada de um prédio sobre a Guerra do Paraguai, e sobre a "terrível situação na fronteira", que "estava se agravando a cada dia que se passa". Eu parei de fazer o que estava fazendo, e ouvi cada palavra que ele dizia, com muita atencão. Ele então foi adiante com seus assuntos e nos apresentou o seu novo corpo de soldados: Os Voluntários da Pátria. São exatamente isso: Voluntários que se alistam em sua Propriá vontade para lutarem pela pátria. Logo depois de explicar o sistema de alistamento, ele então declarou ao povo que haviam vários locais de alistamento já abertos na cidade, e que contava com o apoio do povo para vencer a guerra. Ele então, prometeu que a guerra terminaria rapidamente, que tudo que o Brasil precisava fazer era armar um belo contra-ataque, e esperar a declaracão de paz paraguaia depois de alguns diasde intricação no campo de batalha. Eu fiquei realmente motivado a me alistar ali mesmo, mas logo fui puxado pelo braco
por Luis, meu irmão mais velho, e ele então disse que era uma ideia melhor nos irmos falar com nosso pai sobre o assunto. Chegamos em casa. O ar era pesado, por que chegamos todos juntos, e meu pai apenas lançou um olhar para nos. Ele sabia. Sabia exatamente o que iriamos fazer naquele momento. Ele então abaixou o livro que estava lendo e perguntou: "Vocês vão mesmo se alistar?", e logo Henrique respondeu: "Sim. E vamos fazer isso agora." Meu pai ficou pensativo. Ele tinha certeza de que sua resposta não importava. Nos iriamos para guerra de qualquer jeito. Então, meu pai simplesmente olhou para nos, um por vez, e disse, com certa rispidez em sua voz:

"Então vão la morrer naqueles matos malditos."

 Eu e meus irmãos então saímos de casa e fomos para o centro de alistamento local, que tinha uma fila enorme em sua entrada, e esperamos nossas vezes para nos alistarmos. Em alguns minutos, um representante de Dom Pedro aparece para fazer um pequeno discurso, agradecendo os nossos sacrifícios pessoais "pelo bem da nação e pela gloria do Império", e, eventualmente, chegou nossa vez na fila. Luis, sendo o mais velho, se alistou primeiro, e foi colocado no 5o Corpo de
Voluntários da Pátria, e foi encaminhado para uma sala de examinamento. Henrique, então, também foi, e também foi posto no 5º Corpo, e também foi para a sala. Carlos, porem, foi encaminhado para o 6º Corpo, e, na minha vez, fui encaminhado para o 8º Corpo. Estranhei isso, e fui encaminhado para uma outra sala, diferente da que meus irmãos foram mandados. Eu escutei, na distancia, o cacula Roberto sendo encaminhado para a Marinha. Não sei que Corpo, ou Brigada, ou sei la, mas ele foi para a Marinha. Eu, então, entrei numa sala que, francamente, precisava de alguns reparos. A tinta estava levemente descascada, e as paredes, quase sem cor, pareciam bem malcuidadas. Eu então me sentei numa das varias cadeiras ali, e notei que, fora uma meia duzia de homens, que estavam de pé, eu era o único la. Fiquei ali, sentado, esperando, e a sala foi gradualmente se enchendo. Eu vi escravos, imigrantes, nativos... a sala virou um festival de cores e de etnias muito rápido, e, provavelmente depois deles chegarem ao numero de voluntários necessários, um dos homens que estava levantado então começou a falar:

"Sabem, uma hora atrás, essa sala estava quase vazia. Agora, temos quase 500 voluntários, que, tenho certeza disso, estão mais do que preparados para lutarem pelo Império e pela pátria. Mas, eu vou ser bem claro no que vou dizer agora, e não há vergonha em abandonar esse alistamento voluntario depois de eu dizer o que tenho a dizer: Vocês vão lutar muito longe daqui. Viverão em condições nada boas, terão de treinar diariamente, e assim que formos chamados para a frente de batalha, marcharemos rapidamente e incessantemente para tal frente. Os inimigos, os paraguaios, liderados por Solano Lopez, são um inimigoformidável, e com muita moral, forca e treinamento. Os exércitos imperiais, despreparados com a súbita declaracão de guerra, sofreram derrotas atrás de derrotas para as forcas paraguaias, e as nossa fronteiras há muito foram ocupadas por eles. Porem, o nosso dever e lutar pela nação, morrer, se preciso, mas acima de tudo, lutar com todos os nossos esforços pela libertação nacional desse ditador. Solano e um homem cruel, e a menor desobediência com seus subordinados resulta numa dolorosa sessão de tortura, e depois uma execução em praça publica, isso sem falar na opressão militar do povo paraguaio, que e obrigado a lidar com suas vontades... Bem, querendo manter esse discurso curto, eu só vou lhes avisar o seguinte: Vocês talvez não voltem vivos. Não. Vocês, com quase certeza, não irão voltar dessa guerra."

    Ele então soltou uma risada alta, e continuou:

"Isso e, se vocês ficassem sob o comando de qualquer um dos outros oficiais. Comigo, vocês estão mais seguros do que dentro de uma estatua de Jesus em Jerusalém, então não se preocupem com nada. Mas, com seriedade, lhes pergunto: Vocês ainda querem ser Voluntários da Pátria e lutarem ate o fim? Se sim, fiquem aqui. Se não, podem se levantar e sair por onde entraram."

Ninguém se mexeu. O oficial então disse que deveríamos nos apresentar aqui amanha de manha, de malas prontas, para irmos adiante para o local de treinamento. Depois de dar mais alguns detalhes, ele pergunta se alguem tem duvidas, mas ninguém sequer mexe um dedo. Depois disso, ele dispensa todos, e nos deseja uma boa noite de sono, "Por que se alguem conseguir fechar sequer um olho depois disso, já e uma façanha."

Eu realmente preciso dormir. Deve ser tarde, e eu preciso dormir muito para o inicio do treinamento amanha.

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